Vai sendo tempo de florirem pincéis, colcheias
cores, desenhos. Vai sendo tempo de levar a vida cheia.
Vai sendo tempo de jorrar água pura com poesia à mistura
óptica futura em linguagens de ternura.
Vai sendo tempo de soltar os sonhos do siso
numa primavera de naves à velocidade riso.
Vai sendo tempo de abrir o coração no espaço.
Largar este tempo repleto de ignorantes e sábios.
Deixar todas as gotas de amor molharem-me os lábios.
E nu e feliz como a luz atravessar a tela
sem nada meu e, livre, estrear o mundo.
Cruz de Cristo
ou
O ser Português
(16 painéis de óleo sobre tela)
(260x260 cm)
HORIZONTE
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe o Sul sidério
Splendia sobre as naus da Iniciação.
Linha severa da longínqua costa –
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a Terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, há flores,
Onde era só, de longe a abstracta linha.
O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e com sensíveis
Movimentos da Esperança e da Vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte –
Os beijos merecidos da verdade.